UMA LIÇÃO DE SIMPLICIDADE

13:18


A medida que os dias passam, estamos mais próximos ou mais distantes dos nossos sonhos. Vivendo num mundo onde tudo a nossa volta pode ser motivo de distração; numa época onde de todas direções vêm teorias que prometem alcançar o sucesso que tanto desejamos.

Queremos realizar o “sonho americano”: casar aquela pessoa fantasticamente imaginada, comprar o zero quilómetro do último modelo, sentir tic tic das chaves da porta daquela grande mansão. Há quem é mais intrínseco e espirituoso: almeja encontrar o seu “eu superior” mais crítico, intuitivo e experiente; espera em sua geração ver todos os conflitos e guerras dissipadas; quer ver o amor brotar ao coração de todos os humanos na terra.

Quaisquer que sejam nossas aspirações e objectivos, não estamos prontos para caminhar enquanto não abraçarmos as coisas mais simples da vida. Se a pequenez, a “auto-redução” não estiverem presentes no nosso modo predominante de pensar, mais difícil será entendermos as verdades universais da vida.

Ontem, caminhando pelas ruas da Zona Comercial do Lobito, não resisti ao convite do engraxador para tomar os seus serviços (curiosamente, por causa do seu trabalho, esses profissionais vêm o mundo de baixo para cima, olham a cidade através dos sapatos, dos pés das pessoas a caminhar pela calçada). Como pessoas não são montanhas, encetamos conversa naqueles breves minutos.

“Eu vim para cidade em 1997, quando o Sr. Kundi Paihama era comissário da província de Benguela (que os historiadores o comprovem). Desde aquela data que faço esse trabalho. Antes vinha e voltava para aldeia. Estou permanentemente aqui desde o meu segundo filho e agora tenho seis. A minha esposa vende na praça, os filhos estão bem e estão na escola.”

Confesso que fiquei entusiasmado com aquelas palavras. Não sou tão ingênuo à simplicidade com que muitas famílias angolanas levam a vida, mas ouvir aquilo numa voz em primeira pessoa e fazer raciocínio de perspetiva, revirou a mentalidade que há muito venho inconscientemente construindo.

Com que padrões levamos a nossa vida? Com que pressa queremos resultados práticos em função dos nossos objectivos? Com que frequência temos parado para agradecer e contemplar as pequenas conquistas?

Escolha de carreira - todo processo descomplicado

12:40


A escolha de uma carreira é para muitos um assunto difícil. Apenas uma “minoria sortuda” guiada principalmente pelo gosto, sabe de antemão o que seguir na vida profissional. Muitas vezes, ganham o gosto a partir dos hobbies, das conversas com as pessoas mais próximas do seu ciclo social e de elogios/dicas dos professores do ensino fundamental.

Ao início do ano letivo, este assunto toma lugar nos principais debates da comunicação social e não só, tendo em conta o grande número de estudantes que inevitavelmente deve escolher o curso de licenciatura que obviamente após conclusão lhes dá acesso a prática de uma profissão.

Entretanto, para muitos, o monólogo interior - sobre a escolha da profissão acertada - é constante, não apenas para aqueles que não aderiram ainda a uma profissão, mas também para aqueles que já exercem, no caso de redireccionamento.

Uma carreira inicia com a escolha de uma profissão.  De forma sucinta, é a soma de todos os cargos que se vai exercendo ao longo da vida profissional, geralmente em sequência ascendente. Mas é necessário saber que a ocupação inicial não é necessariamente definitiva, inclusive nas áreas mais rígidas como saúde pública e no exército militar pois, por razões exógenas existem sempre variações a medida que o profissional vai escalando a hierarquia de sua profissão. Por isso, faz-se desnecessário o receio desmedido à escolha e exercício da mesma. A escolha de uma profissão é mais um ponto de partida do que a escolha para a vida toda.

Este momento “decisivo” gera ansiedade porque é feito num ambiente de alta incerteza, com baixo nível de informação e por indivíduos relativamente inexperientes no mercado de trabalho. Por outra, uma escolha menos acertada produz um custo de oportunidade financeiro, emocional e de tempo.

Passados os meus vinte e cinco anos de idade, os meus sonhos profissionais foram mudando em função da realidade do mercado de trabalho, embora ainda esteja vivendo a génese da minha carreira profissional. Hoje trabalho nas áreas de assistência administrativa e de gestão de recursos humanos numa empresa de médio porte. Alem de ter sido uma oportunidade, no sentido de alguém acreditar em mim e enquadrar-me, devo ressaltar que - para efeitos pedagógicos – a minha área de formação do ensino superior em gestão empresarial, pesa sobre o facto de eu estar alí. Daí a importância de escolher a profissão exatamente quando se entra no ensino superior, para aumentar as chances de empregabilidade na área de nossa eleição de acordo gostos pessoais, vocação ou outros critérios que a seguir menciono.

É comum falar-se de três principais pontos a considerar na escolha de uma profissão.

#1. Conhecimento da carreira.
Uma pesquisa exaustiva sobre a futura profissão se faz necessária. Desde a leitura de revistas especializadas, a consulta em empresas, organizações ou instituições do sector em causa. Devem estar em pauta assuntos como o dia-a-dia da profissão, os níveis salariais, as implicações sociais, etc.

#2. Conhecimento do mercado.

Aqui efetuamos uma análise mais abrangente, enquadrando a área escolhida no senário macroeconómico da sociedade em que o indivíduo está inserido. Há profissões que estão em voga e com altas taxas de crescimento, outras com previsão certa de estarem extintas ou em baixa nos próximos anos.

#3. Autoconhecimento.
Outro aspeto muito importante, é o conhecimento acurado de nós próprios. Um inventário fiel das nossas habilidades e limitações é fortemente uma garantia de êxito na escolha de uma profissão. Lembro-me, a não muito tempo, estar diante de um amigo profissional da área de psicologia, explicar a perceção que eu tinha de mim mesmo, francamente, fiquei surpreendido do quanto pouco me conhecia. E quando não nos conhecemos não só tomamos escolhas menos acertadas como possuímos baixa autoestima e baixos níveis de confiança. Deveras, este é o passo mais importante nesse processo.


Pode-se conseguir uma ajuda externa fazendo testes de vocação ou orientação profissional oferecidos por centros propícios, bem como em certas universidades que criam um “departamento de apoio a inserção na vida activa”.


Bem-haja o debutante que escrutina as várias opções diante de si. E bem-haja o profissional que se esforça a exercer a sua actividade com rigor e zelo

O fogo: a tecnologia que mudou o destino da huminidade.

22:27

- notas (e um pouco de spoiler) sobre a série Origins: the journey of humam kind.

Estreou, a então esperada série no NatGeo, Origins: the journey of human kind, apresentada pelo filósofo, futurista e estrela televisa (e outros títulos) Jason Silva.
Diferente ao que nos habituou com Brain Games, esta nova série é mais parecida aos seus vídeos Shots of Awe do youtube, pelas cenas quase cinematográficas e trilha sonora contagiante.
O conteúdo tem como pano de fundo a teoria evolucionista de Darwin, pelo menos nota-se claramente no primeiro episódio, o fogo.
Sem muita novidade, o primeiro episódio foi uma bela organização de factos históricos e pre-históricos sobre a descoberta do fogo como a primeira tecnologia dominado pelo homem e a base de todo mundo moderno, no qual vivemos hoje.
Ao cozer os alimentos, o homem reduziu o tempo, pela metade, para digeri-los; os alimentos cozidos mudaram a estrutura do seu cérebro (facto cienteífico) e foi através da fogueira que os primitivos estreitaram e desenvolveram as relações sociais e afetiva – as lareiras na sala de estar ainda representam isso,
Com a fundição dos metais o homem deixou para trás 2,5 milhões de anos da era da pedra, inventando ferramentas e armas para sua sobrevivencia.
O fogo esteve na base da invenção da pólvora, pelos Mongóis nas guerras do famoso General Gengis Khan, no século XVII. Outra demonstração do poder destruidor do fogo foi o grande incêndio de Londres em 1666 que deixou toda cidade devastada, porém forçou uma reestruturação completa da constituição urbana das cidades, fazendo de Londres o protótipo das actuais metrópoles a nível do globo, como Nova Yorque, Paris, Monique, Moscovo, etc.
Como energia, o homem usou o fogo para criar máquinas com motores a combustão, desde os comboios aos foguetões, mencionando aqui o inventor, Robert Goddard que em 1929, testava o lançamento de foguetões e produziu extensa literatura cientifica sobre o assunto.
E o futuro da energia: a fusão nuclear de átomos.
Veremos o que prometem os próximos episódios.

Gestão de Projectos - Porquê evoluiu tanto quanto as empresas

20:13

Conceituação de Projectos e evolução histórica
Na sua acepção mais básica um projecto é definido como um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. Nesta definição destacamos os elementos muito associados entre si, o tempo e objectivo. O tempo de um projecto o caracteriza de um início e fim bem delimitados que não podem ser confundidos com o tempo de duração do seu produto ou resultado que em alguns casos são perpétuos. E um projecto termina quando são ou não alcançados os seus objectivos, quando desaparece a sua necessidade, quando o seu cliente ou patrocinador decide encerra-lo. Já os objectivos são a razão da existência dos projectos, que podem ser concebidos pelos mais variados motivos como por exemplo, A demanda dos Mercados, Estratégias Económicas, Necessidades Administrativas, Actualização Tecnológica, Conformidade com nova legislação, entre outros, com vista a criar novas soluções ou resolver problemas.
Existem poucos relatos sobre o historial da gestão de projectos, entretanto consensualmente consta que nos campos como a construção civil, engenharia e nas actividades de defesa militar, já se realizavam projectos com menos complexidade, a chamada linha clássica de projectos, onde o foco inicial era a análise de sistemas de computação e a implantação de empreendimentos físicos. Até o início da década de 1900 as empreitadas de construção civil eram geridas por arquitectos criativos, engenheiros e mestres de construção. Apenas a partir de 1950 as organizações adoptaram sistematicamente ferramentas de gestão de projectos complexas, embora esta evolução, dos projectos, tenha se prendido às áreas de aplicação - isto é, ao desenvolvimento de projectos de informática e à construção e montagem de obras de grande porte. Na altura os gestores de projecto ocupavam-se totalmente pelos custos e proveitos dos projectos, isto nas empresas orientadas-para-projectos, onde forçosamente a gestão de projectos começava a ganhar a categoria de profissão. Já nas empresas de baseadas em produtos e serviços, cuja actividade não implicava um fluxo contínuo de projectos, o gestor de projectos nunca teve um estatuto de profissão a pesar de tais empresas possuírem uma estrutura híbrida.
O conceito de projectos evoluiu, sendo definido genericamente como sistema interligado de actividades de relativa complexidade, não-repetitivas, com objectivo pre-especificado, com restrições de custo e prazos, e recursos agrupados no início e dispersados no fim do projecto.
São apontados como factores que contribuíram para aceitação da gestão de projectos as duas recessões económicas vividas nos últimos 25 anos, concretamente na necessidade de as empresas substituírem a gestão tradicional e adoptarem metodologias avançadas de gestão de projectos. O ambiente externo dos negócios, a melhoria contínua, o posicionamento e diferenciação no mercado, o rigor dos clientes/stakeholders, a gestão de conflitos, dentre outros, são outros factores.
Os pioneiros da Ciência de Gestão como Henry Gantt e Jules Henri Fayol, contribuíram de certa forma às práticas da gestão de projectos através do Gráfico de Gantt e das Funções de Gestão, respectivamente. Na década de 50, modelos de análise de rede, que auxiliavam na planificação, visualização e coordenação das actividades do projecto, como o gráfico de PERT (Program Evaluotion and Review Tecnique), desenvolvido em 1958 pelo Escritório de Projectos Especiais da Marinha dos EUA; o CPM (Critical Path Method), desenvolvido em 1957 pela Dupont e mais tarde a EAP (Estrutura Analítica do Projecto), desenvolvida em 1962, disseminaram-se entre as empresas da época.
Nos anos a seguir, vários foram os processos que se desenvolveram para dar suporte à Gestão de Projectos:
1983 - 1990 - Gestão da Qualidade Total (TQM) - Esta ferramenta surgiu na necessidade de além de competir por uma estratégia na base de custos as empresas reconheceram a diferenciação pelo aumento da qualidade como vantagem competitiva em meados da década de 80.
1990-1995 - Engenharia Concorrente (Reengenharia) e Downsizing;
1995 - 2000 - Centros de Excelência em Gestão de Projectos;
2000 - 2002 - Modelos de Maturidade da Gestão de Projectos;
2002 - 2005 - Internet status Capacity Planning Models.
A nível mundial existem institutos e associações que tem se responsabilizado pela formação, desenvolvimento e disseminação de novos processos, metodologias e práticas. Temos o PMI (Project Management Institute) fundado em 1969 nos EUA. Sua principal referência, o PMBOK - Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projectos, é publicado quadrienalmente e já vai na sua quinta edição. Realiza anualmente um seminário-simpósio e oferece muitas certificações na área. A outra instituição de renome é o IPMA (International Project Management Association, fundada na Europa em 1967. Possui membros em todo mundo e oferece Programas de Certificação a 4 níveis em gestão de projectos.
A Gestão de Projectos hoje constitui uma função empresarial distinta que requer estudo e disciplina, podendo ser aplicada em praticamente todos ramos de actividade empresarial, desde o industrial às organizações de caracter social.
Bibliografia:
Gestão Moderna de Projectos – Melhores Técnicas e Páticas; António Miguel; 6ª Ed
PMBOK - Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projectos; PMI; 5ª Ed
Art. Gerência de projetos - uma reflexão histórica; Manuel M. Benitez Codas
Links:

https://en.wikipedia.org/wiki/Project_management

Projectos e o que eles podem significar na nossa vida

14:06

Como todo defensor de uma área do conhecimento, eu assento o início desta exposição - a título de introdução de outros textos sobre gestão de projectos que se seguirão - em dois principais fundamentos, tomando a liberdade de chamar ao primeiro de “o argumento existencialista” e ao outro, “o da universalidade”.

No “existencialista”, a Gestão de Projectos é associada às primeiras formas de civilização da humanidade. Nas suas investidas, o homem primitivo, repetia tarefas simples que seguidas umas as outras, o permitiam alcançar resultados, como abater uma caça, recolher frutos selvagens e assim em diante. Diga-se, eram processos desprovidos da sofisticação que viria ter esse campo do conhecimento. E “o da universalidade” tem que ver com a aplicação, ainda que empírica, de conhecimentos e habilidades dessa área, nas nossas mais variadas tarefas do dia-a-dia. Na sua acepção mais difundida, o projecto é tido como um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo.[1] Por esse ponto de vista, eliminado todos outros factores subjectivos idiossincráticos à vida, podemos afirmar que a existência de cada pessoa nesse planeta deveria ser um programa que é um conjunto de projectos interrelacionados ou não. As nossas acções diárias têm duração e produzem sempre um resultado, sendo estas de caracter único ou parte de um conjunto.

A aplicação do conhecimento, processos, habilidades, ferramentas e técnicas da área de Gestão de Projectos é crucial nas empresas Angolanas, quer seja a sua dimensão, ramo de actividade e sua estrutura organizacional – um organograma de uma empresa tradicional é caracterizado por vários gerentes funcionais que asseguram uma série de processos rotineiros afectos ao objecto social da empresa, todavia, nas últimas décadas tem se provado a necessidade da inserção de um gerente de projectos e uma equipa (ou como serviço terceirizado) de formas a acudir as exigências do mercado bem como a dinamização organizacional face aos seus objectivos estratégicos e de negócios.

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[1] PMBOK – Um Guia de Gerenciamento de Projetos, 5ª Edição

A GEOGRAFIA DO ESPAÇO E COMO DEVEMOS DEFINIR AS METAS PARA 2016!

17:20

Isto não é uma lista de planos pessoais, muito menos uma colecção dos "hábitos das pessoas altamente qualificadas". É uma exposição sucinta de opiniões que podem tornar-se valiosas para definir e/ou injectar algum senso de orientação no decorrer do ano que agora tomou curso. E quem escreve está longe de ser um guru desses assuntos.

Ultimamente me deparei com um conceito que achei muito interessante. Segundo a matéria, os séculos, além de serem uma unidade de tempo, constituem também (quiça, principalmente) um espaço caracterizado por culturas, ideologias, clima e assim em diante. Um espaço onde as pessoas conseguem se identificar umas com as outras através dos seus modos e tratos. Um século, nessa perspectiva é uma civilização constituída por governados e governantes, onde, por exemplo, a arte mais interessante em um determinado ano, suplanta as produzidas antes e depois dela; onde os movimentos sociais fracassados ou de pouco impacto seriam como uma cidade ou grupo étnico apagado da história do seu país. O tempo, afinal, é um lugar pelo qual se pode viajar através de memórias próprias ou dos que nos antecederam e por meio de planos, profecias e um pouco de ciência.

Apesar de mais breves, o mesmo se aplicaria aos anos.

Ao identificarmos as histórias e principais eventos da nossa vida ao longo do ano anterior – sublinho aqui (para os mais pragmatístas, obviamente) que o estudo do passado é a única fonte de informação segura e garantida para prognosticar o futuro – deveremos reconhecer os nossos padrões de comportamento e performance, os níveis das nossas habilidades interpessoais, o nosso optimísmo e pessimísmo, entre outras. Mas, mais relevante – de acordo a lógica inicial dessa reflexão – será mapear as nossas principais ideias do ano, os resultados mais relevantes, os amigos e equipes com as quais participamos, o saldo e o fluxo de dinheiro (esta palavra está mesmo bem aqui, rsrs), e vários outros aspectos idiossincráticos a cada um.

O ponto aqui é visualizar o ano como uma região geográfica, um espaço não linear e localizar os castelos e as ruinas, as cidades e as periferias da nossa vida. Podendo assim, demolir edifícios ou bairros inteiros, manter "novas centralidades".


- Osvaldo Sakamana 06-01-2016

Filha de Deus

14:45

Isso doi muito. O coração fica sem forças, condoído com o sofrimento do outro. Me pergunto: como ainda assim é possível ter sonhos? O que estará acontecendo na cabeça dessa jovem? Quais serão os seus pensamentos numa hora e circunstâncias como esta?
Quase albina, com bebé às costas, vejo-a da janela do táxi que me leva à Benguela. À beira da estrada, com pacotes de pastilhas e chicletes nas mãos vai exibindo aos que passam. Aproxima-se aos carros enquanto faz uma ginga, como que a vibrar o corpo, para acalentar o bebé, engolido pelas línguas do impiedoso sol benguelense.
O rosto dela não consegue esconder bem a vergonha e isso aumenta mais a dor de quem a observa. O chaile, não, o pano com o qual cobre a criança é igual a saia, a blusa que ostenta: sujos e gastos.
O que ela estará pensando para o dia de amanhã? Nunca saberei, mas sei que ela é também filha de Deus.

Incondicional

10:16

Vês aqueles insectos que se encontram nos figos maduros? E muitas vezes naqueles que tem melhor aparência, mais vermelhos e grandes? Já alguma vez tiveste decepção por não saborear um figo que prometia suculento mas infestado por aqueles bichos intrometidos?

Pois bem, essas pequenas criaturas tem o tipo de vida mais impressionante que uma vez já ouvi falar! A sua vida é um sublime acto de compromisso, de amor e de altruísmo.
No seu único dia, se não únicos minutos de voo, lá vai batendo as asas transparentes. Escolhe um figo verde, talvez o do ramo ao lado, com seu bico aguçado penetra o interior para cumprir a sua mais nobre tarefa, o seu propósito de vida. O insecto, pouco se importando com a escuridão do interior da fruta, destemido e livre de qualquer preconceito, agora se encontra instalado. Põe o ovo, a semente, a promessa de vida a um outro insecto no porvir.

E o que acontece com o nosso protagonista aqui? Ele tem que morre! Sim é um acto suicida. Ele morre enquanto o figo amadurece e ovo cresce. Dias depois o novo insecto vai romper o figo doce e maduro. Minutos depois, seguindo seu instinto, vai dirigir-se ao figo verde do ramo ao lado para morrer de formas a garantir vida a um terceiro insecto.
A VIDA DESSES INSECTOS SÃO MINUTOS ENTRE O FIGO MADURO E O VERDE, O MADURO PARA NASCER E O VERDE PARA MORRER, GERANDO OUTRA VIDA.

E eu não sou diferente desse insecto. Eu estou pronto para mergulhar na escuridão para te dar luz. Eu estou a bater as asas para voar não só apenas ramo mais próximo, eu quero toda a árvore, eu trabalho em sonhos maiores. Eu sei onde quero ir, aliás nos sabemos onde queremos estar, e isso importa. Ainda que o figo estiver verde demais, ainda que o meu bico se quebrar eu vou usar as patas, as asas e o ferrão. Nunca direi nunca!

Disse um velhinho carpinteiro: "nos meus tempos, quando eu saia para o dia, exercer o meu ofício, eu punha na cabeça que estou a fazer isso para a minha amada. E eu fazia os artigos mais lindos da cidade, e eu prosperei, e ela esteve sempre ao meu lado!"

Estou a agir incondicional como o insecto e mentalizado como o velhinho. E agora chega de palavras porque vou voltar ao serviço!

crónicas

Universidades postas à prova: Avaliação da Qualidade e Educação Superior em Angola

17:49

Meu último artigo no jornal Cultura (clique para ler no site)

No evento que deu por terminadas as III Jornadas Científico-Pedgógicas da Faculdade de Economia da Universidade KatyavalaBwila, foi realizado, a 29 de Agosto, o lançamento da obra "Avaliação da Qualidade e Educação Superior em Angola" de Autoria de Maria da Conceição Barbosa Mendes PhD, Professora Associada da mesma Faculdade e do Instituto de Ciências de Educação (ISCED) de Benguela.

A sala de Conferências daquela instituição esteve abarrotada, tendo quem teve que ficar em pé. Estavam presentes, só para mencionar, personalidades como o Dr. Dumilde Rangel - homenageado no evento, pelo "litro" derramado em prol do ensino universitário local - , o Sr. Mário Cajibanga - Director Provincial da Cultura e representante, na altura, da KAT - Editora, pela qual saiu o livro. Para a apresentação da obra esteve presente o Sr. Eugénio Alves da Silva PhD, por sinal seu prefaciador.
Com quase 600 páginas, a obra é resultado da tese de doutoramento da autora em Ciências da Educação, na Universidade do Minho, uma das mais exigentes de Portugal e pioneira na área. Embora tamanho não seja documento, o Dr. Eugénio ressalta ser uma obra que exprime um trabalho sério, profundo e bem fundamentado.Abordando sobre uma área relativamente nova no País, a autora vem preencher um vazio há muito sentido no panorama académico nacional, pois, "até porque é a primeira vez que surge um trabalho sobre esta temática com o rigor e a profundidade que estão aqui patentes" - refere o prefaciador. O livro aborda sobre a Avaliação nas Instituições do Ensino Superior Angolanas, por via de teorias organizacionais descortinando os contornos e descrevendo as lógicas e significados da própria avaliação, tendo em conta a devida contextualização na prática dos actores universitários em Angola.

Para estudo de caso, a autora escolheu a Universidade Agostinho Neto (UAN), a primogénita das universidades nacionais, que a perscrutou minuciosamente durante mais de 6 anos, sob as lentes da Avaliação Institucional. Deste modo pode-se encontrar nesta obra, bem documentada, a história da UAN e, consequentemente, a trajectória, sob vários olhares, do próprio ensino superior em Angola. Mas o que ressalta daí, do "referencial empírico correctamente estabelecido", é o suporte que dá ao novo conhecimento produzido pela autora. Como atesta ainda o Dr. Eugénio, "a partir do contexto social e universitário angolanos desenvolveu não apenas uma conceptualização sobre a avaliação institucional como ainda produziu uma análise sobre como esta percepcionada pelos gestores e actores universitários, trazendo algumas representações práticas que a identificam."

A Dr.ª Maria Mendes afirma-se, portanto, como líder intelectual na matéria, trazendo a público esta obra que certamente ingressa ao cânone angolano na área de Administração Escolar.

São diversas as linhas inovadoras de pensamento pelas quais a autora, discorre ao longo do livro, de destacar a desmistificação dos tabus sobre a avaliação enraizados na cultura organizacional em nossas instituições de ensino. É leitura obrigatória para os agentes afectos, directa ou indirectamente ao dia-a-dia do Ensino Superior, tais como pesquisadores, decisores, gestores, docentes, estudantes e outros interessados.

A autora é docente universitária desde 1993. Licenciada em Ciências da Educação, opção Pedagogia, pela Universidade Agostinho Neto. Mestre em Teoria e Desenvolvimento Curricular. Doutorada em Ciências da Educação e Administração Escolar pela Universidade do Minho. É investigadora e membro de várias Sociedades Científicas Internacionais. De mencionar que o presente artigo não resume a riqueza e densidade da obra em questão, estando o leitor deste periódico convidado a ter contacto com a mesma.