UMA LIÇÃO DE SIMPLICIDADE

13:18


A medida que os dias passam, estamos mais próximos ou mais distantes dos nossos sonhos. Vivendo num mundo onde tudo a nossa volta pode ser motivo de distração; numa época onde de todas direções vêm teorias que prometem alcançar o sucesso que tanto desejamos.

Queremos realizar o “sonho americano”: casar aquela pessoa fantasticamente imaginada, comprar o zero quilómetro do último modelo, sentir tic tic das chaves da porta daquela grande mansão. Há quem é mais intrínseco e espirituoso: almeja encontrar o seu “eu superior” mais crítico, intuitivo e experiente; espera em sua geração ver todos os conflitos e guerras dissipadas; quer ver o amor brotar ao coração de todos os humanos na terra.

Quaisquer que sejam nossas aspirações e objectivos, não estamos prontos para caminhar enquanto não abraçarmos as coisas mais simples da vida. Se a pequenez, a “auto-redução” não estiverem presentes no nosso modo predominante de pensar, mais difícil será entendermos as verdades universais da vida.

Ontem, caminhando pelas ruas da Zona Comercial do Lobito, não resisti ao convite do engraxador para tomar os seus serviços (curiosamente, por causa do seu trabalho, esses profissionais vêm o mundo de baixo para cima, olham a cidade através dos sapatos, dos pés das pessoas a caminhar pela calçada). Como pessoas não são montanhas, encetamos conversa naqueles breves minutos.

“Eu vim para cidade em 1997, quando o Sr. Kundi Paihama era comissário da província de Benguela (que os historiadores o comprovem). Desde aquela data que faço esse trabalho. Antes vinha e voltava para aldeia. Estou permanentemente aqui desde o meu segundo filho e agora tenho seis. A minha esposa vende na praça, os filhos estão bem e estão na escola.”

Confesso que fiquei entusiasmado com aquelas palavras. Não sou tão ingênuo à simplicidade com que muitas famílias angolanas levam a vida, mas ouvir aquilo numa voz em primeira pessoa e fazer raciocínio de perspetiva, revirou a mentalidade que há muito venho inconscientemente construindo.

Com que padrões levamos a nossa vida? Com que pressa queremos resultados práticos em função dos nossos objectivos? Com que frequência temos parado para agradecer e contemplar as pequenas conquistas?

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